A alta de 7,8% na produção do primeiro semestre, na comparação com o mesmo período do ano passado, vista de forma isolada, é uma boa notícia para a indústria automotiva brasileira.
No entanto, a entidade alerta: “O contexto do mercado indica que o segundo semestre será bastante desafiador para o setor, a começar pela base de comparação, que se dá contra um fraco primeiro semestre de 2024, e que terá pela frente meses de forte desempenho no ano passado. Nos últimos dois meses houve queda no ritmo de produção, e uma queda de mais de 600 vagas diretas na indústria automotiva”.
Segundo Igor Calvet, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, os números de junho são preocupantes. “O dia útil a menos em relação a maio não justifica as quedas que tivemos no mês, de 6,5% na produção, 5,7% nos emplacamentos e 2,7% nas exportações”.

Produção em alta, graças às exportações
A produção acumulada no semestre foi de 1.226,7 mil veículos automotores.
De acordo com a ANFAVEA, o crescimento de 7,8% pode ser em boa medida creditado ao aumento de 59,8% nas exportações (264,1 mil unidades), em especial para a Argentina, o que coloca o Brasil em uma situação de maior dependência do país vizinho para a manutenção dos bons níveis de exportações. Isso porque não houve altas relevantes nos envios para outros países – em casos como o México, a situação é de perda de participação. No semestre, 60% dos embarques foram para a Argentina.
Mercado interno
A entidade ainda alerta que os sinais mais preocupantes, vêm do mercado interno, uma vez que os emplacamentos de quase 1,2 milhão de unidades nos primeiros seis meses de 2025 representaram uma alta de 4,8% sobre o “modesto” primeiro semestre de 2024.
Uma análise mais acurada revela que os autoveículos nacionais subiram 2,6% nesse período, enquanto os importados cresceram 15,6%.
E o pior: as vendas de veículos leves nacionais caíram 10% no varejo, na comparação com o primeiro semestre de 2024, enquanto modelos vindos da China representaram 6% do mercado brasileiro.
De acordo com a ANFAVEA, há mais de 110 mil veículos chineses em estoque no país. A média diária de vendas em junho foi inferior à do mesmo mês do ano passado; “um recuo comparativo que não ocorria há quase dois anos no país”.
Caminhões
No segmento de caminhões, a situação é ainda mais sensível. Os emplacamentos no semestre recuaram 3,6% em relação ao mesmo período de 2024.
A produção ainda está 3,1% mais alta, mas vem desacelerando a cada mês.
Ônibus
As melhores notícias vêm do segmento de ônibus, com alta de 7,3% na produção e de 31,3% nas vendas.

Importações
As importações acumuladas do primeiro semestre cresceram 15,6% e já chegam a 228,5 mil unidades. “Esse é um volume equivalente ao que se produz anualmente em uma fábrica nacional de grande porte, com mais de 6 mil funcionários diretos, sem levar em conta as vagas geradas na cadeia de fornecimento”, alertou Calvet.
“É cada vez mais evidente que estamos recebendo um fluxo perigoso de veículos chineses para o nosso mercado, com um Imposto de Importação abaixo da média global. Não ficaremos passivos com a interrupção de um projeto de neoindustrialização do país e com o avanço de propostas, como essa de redução da alíquota para montagem de veículos semi-desmontados, que não geram valor agregado nacional e geram pouquíssimos empregos”, concluiu o executivo.
Fonte: ANFAVEA