A Unidade Embrapii da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) está à frente de uma iniciativa inovadora que propõe uma alternativa sustentável para a destinação dos rejeitos da mineração.
A pesquisa resultou em uma tecnologia capaz de converter materiais tradicionalmente tratados como passivos ambientais em insumos de alto desempenho para a construção civil, como blocos para pavimentação e alvenaria, ladrilhos hidráulicos, tintas, concretos e argamassas — fortalecendo a economia circular no setor.
Enfrentando um dos maiores desafios ambientais do país
O projeto surge como resposta à gestão de milhões de toneladas de rejeitos acumulados. Em vez do descarte, a proposta é integrar esses resíduos a uma cadeia produtiva já consolidada, agregando valor econômico a um material antes tratado como lixo.
A metodologia é abrangente e rigorosa. A equipe que integra o Grupo de Pesquisas Reciclos CNPq, coordenada pelo professor Ricardo Fiorotti, realiza desde a caracterização detalhada do rejeito, analisando sua composição e possíveis impactos ambientais, até testes para garantir a segurança do produto. O processo inclui ainda a prototipagem de peças em escala industrial e o monitoramento para garantir que os produtos não liberem poluentes, sendo tão seguros e duráveis quanto os feitos com areia natural.
Resultados já aplicados
Em 2023, foi inaugurada a Vila Reciclos/UFOP, construída com materiais desenvolvidos a partir de rejeitos de mineração, funcionando como vitrine tecnológica para visitantes.
A aceitação da indústria também comprova o sucesso da pesquisa: Duas das maiores fábricas de pré-moldados de Minas Gerais — Bloco Sigma (Belo Horizonte) e Uni-Steain (Pedro Leopoldo) — já produziram mais de um milhão de peças cada utilizando a tecnologia. “Eles pararam a linha de produção para fabricar conosco e, depois disso, passaram a adotar a areia de mineração em seus blocos”, relata o coordenador da pesquisa, professor Ricardo Fiorotti.
Segundo ele, a facilidade de adoção é um dos principais diferenciais. “Uma planta industrial não precisa modificar sua rotina para incorporar o uso de rejeitos na produção”, explica.
Fonte legal, certificada e de qualidade
Dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) mostram que em 2021 o Brasil extraiu cerca de 113 milhões de toneladas de areia, sendo 102 milhões de areia natural e apenas 11 milhões de areia industrial. Só a região Sudeste respondeu por 61 milhões de toneladas.
Nesse cenário, Fiorotti ressalta: “O tijolo feito de rejeito não compete com o mercado formal de areia. É uma alternativa legal, monitorada e certificada, já que essa ‘areia de mineração’ passa pelos mesmos controles da qualidade aplicados ao minério de ferro”.
Reconhecimento e impacto no setor produtivo
Há 20 anos à frente do Grupo de Pesquisas Reciclos (CNPq), Fiorotti destaca que os resultados do grupo já sustentam diversos negócios: “Startups que comercializam rejeitos utilizam nossos artigos e papers como referência. Também contribuímos com complexos mineradores em Minas Gerais, Pará, Goiás e Tocantins”.
Compromisso social e inovação aberta
Além do desenvolvimento tecnológico, a UFOP realiza expedições anuais para monitorar obras que empregaram os artefatos desenvolvidos, coletando dados e registros para construir um histórico robusto sobre a durabilidade e o desempenho real dos materiais.
“Tudo o que produzimos na universidade é público. São recursos públicos investidos em ciência, tecnologia e inovação para beneficiar pessoas, cidades e o setor produtivo. A Embrapii é uma grande parceira nessa missão”, finaliza o professor, reforçando o caráter de inovação aberta e o compromisso social do projeto.

Fonte: Embrapii, via assessoria de imprensa |